domingo, 21 de setembro de 2008

Atrás da Ruanda

É engraçada a imagem que a gente tem dos outros. Em geral, totalmente etnocêntrica. E isso se aplica a tudo... até a imagem que eu tenho do meu vizinho. Quer um exemplo? O meu vizinho é gremista e sempre quando tem jogo todo o prédio descobre, porque ele berra. Isso me faz pensar que ele não é lá alguém muito refinado. Mas se eu quisesse me despir dos parâmetros baseados em mim, e relativizar... bom, provavelmente eu poderia encontrar momentos de histeria no meu comportamento também. Mau gosto a parte, ele grita quando tá vendo a paixão dele, eu grito quando tou na TPM. Ou seja: hormônios.
Saindo da discussão mesquinha, olha só o que eu encontrei outro dia vasculhando o portal G1 (ok, a notícia é velha, mas vá lá): Resultados preliminares das eleições em Ruanda indicam que o país será o primeiro...
Ruanda em primeiro em alguma coisa? Em que? Em corrupção? Em número de candidatos mortos por causa da AIDS? Em candidatos da etnia tutsi assassinados? Não...
... em que o número de mulheres supera o de homens no Parlamento.
Sim! Ruanda está na nossa frente em uma coisa boa. E não só na nossa frente, mas na frente de muitos dos países mais "desenvolvidos" do mundo. Pra você ver como desenvolvimento é algo relativo... O parlamento de Ruanda é bem mais desenvolvido que o nosso em termos de igualdade de gênero.
É! Isso aí... e você não se enganou. Ruanda é mesmo aquele país que há 14 anos exterminou cerca de 800 mil pessoas (tutsis e hutus moderados) em apenas 100 dias. Esta foi a sua segunda eleição parlamentar!
Mas calma... essa não é uma mera constatação. Eu tenho os números! Prepare-se.
Antes das mulheres em Ruanda alcançarem maioria no Parlamento, elas já representavam 48,8% dele. Agora, representam 55%! São 44 mulheres para 80 vagas.
No Brasil, os índices são um pouco diferentes: das 513 vagas existentes na Câmara dos Deputados (o equivalente ao parlamento de lá), apenas só cerca de 45 são mulheres. Algo como, ahm... 8,8%! Ficamos em 103a posição em um levantamento mundial. A 4a pior colocação da América Latina... E a propósito, atrás também do Afeganistão (que fica com 27% de mulheres no parlamento).
Ééé... tudo isso tá em uma pesquisa feita pela organização suíça União Interparlamentar, que também afirma que ainda assim a gente deve ficar feliz porque a situação tá melhorando. Bem se vê! Três (três hein!) mulheres candidatas a prefeitas de Porto Alegre, deputadas... Nossa governadora é mulher... Considerações sobre honestidade e competência cabíveis a todo e qualquer político a parte, é belíssimo.
A única observação sobre o Brasil presente no estudo (e citada pela BBC Brasil) que me incomoda é a seguinte: "É um contraste [da Costa Rica, com 38,6%] com o Brasil, onde, apesar de a lei de cotas requerer que partidos apresentem listas com pelo menos 30% de candidatas mulheres, nem todos os partidos políticos obedecem (à regra) e não são adotadas sanções".

Pelo jeito Ruanda parece um país mais desenvolvido que o Brasil. E porque não?
Apesar de aqui cobras passearem pelas calçadas e lá não existirem piscinas...

Adeus aos Cocos e as Bananas!


2 comentários:

Natusch disse...

Eu tenho tentado comentar aqui, e não consigo. Terei que, mesmo contra a vontade, usar a conta do Blogger, só para ser ouvido aqui. Então, por favor, abra o leque de opções de comentário, tá? =P

Paula disse...

Diário, COQC. Aham.